Foto: Pedro Piegas (Diário)
Camobi conta com duas centrais de monitoramento. A primeira foi inaugurada no começo do ano e funciona junto à Polícia Civil. A mais recente é da BM (foto) e já está em operação
O vazio deixado pelo poder público tem sido, nos últimos anos, o motivador por parte de associações de bairros e vilas a buscarem soluções para demandas que, a princípio, deveriam ser enfrentadas pelo Estado. Santa Maria, com seus quase 300 mil habitantes, não foge desse contexto. Por aqui, a questão da segurança pública é um tema que preocupa a todos, independentemente da região da cidade.
E foi por meio da união de moradores de Camobi, o maior bairro da cidade, com 21 mil habitantes, que surgiu, em 2015, uma iniciativa de suprir ou, ao menos, minimizar o vácuo deixado pelo poder público. Há quatro anos, um grupo de 15 empresários fez frente à criação da Associação Camobi Segura.
Ao se levar em conta a quantidade de pessoas que circulam por dia no bairro, a população em Camobi chega perto de 50 mil pessoas. Assim, moradores e o empresariado local criaram, no fim de 2015, a associação de bairro. De lá para cá, o engajamento só aumentou e deu o tom nas relações e em investimentos.
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Apenas, no ano passado, a parceria rendeu à Brigada Militar um investimento de R$ 80 mil. A cifra veio de doações da comunidade, com contribuições a partir de R$ 50. Com o investimento, foi possível reformar a sede do batalhão da BM, perto da rótula da UFSM, e consertar mais de duas dezenas de viaturas e comprar 10 tablets. Além disso, um abrigo coberto para as viaturas será construído, neste semestre, com recursos por meio da comunidade.
O capitão Alexandre Lacerda, comandante do 3º Esquadrão do 1º Regimento da Brigada Militar, que cobre Camobi, acompanha desde o início a associação de bairro. Segundo ele, é visível e notória a relação de troca e de ganho mútuo.
- É uma sinergia entre as forças de segurança e a sociedade. Com as câmeras de segurança e os grupos de comunicação (por meio de aplicativos de celular), temos os olhos multiplicados. Todos se somam e o ganho é para o cidadão de bem. A comunidade em Camobi, por exemplo, fala direto com a viatura. Não há necessidade de ligar para o 190. E sem dizer que o custo é zero para o Estado.
Empresas, condomínios e profissionais liberais arcam com a compra, a instalação, a manutenção e a internet das câmeras. A polícia fica responsável pelo monitoramento.
AGILIDADE
Outro ganho, reforça o comandante Lacerda, é quanto ao tempo de resposta. Segundo ele, a média é de três minutos desde o comunicado até a verificação do caso. O capitão diz que, desde que se iniciou e com a consolidação da parceria com a Associação Camobi Segura, o bairro teve queda de 60% em arrombamentos e de 70% nos roubos a estabelecimentos comerciais.
- O último roubo a um estabelecimento comercial se deu há pouco mais de um mês em uma lotérica. Logo que fomos comunicados, analisamos as imagens de uma rua, próximo da lotérica, e vimos os criminosos saindo do local. Em instantes, demos a busca aos criminosos e, em 10 minutos, eles foram encontrados no Bairro São José. Estavam armados e com dinheiro. Nós os prendemos de imediato - conta.
Ainda que a segurança pública seja uma obrigação do Estado, investir na área também é de responsabilidade de todos, reforça o delegado Gabriel Zanella, que comanda a Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa:
- Esse tipo de iniciativa é positiva e poderia ser replicada em outros bairros. As câmeras ajudam na prevenção e também na elucidação. E sem dizer que essas câmeras são de alta resolução, o que ajuda e muito nas investigações - diz o delegado, ao lembrar que Camobi teve apenas um homicídio neste ano.
O lançamento da central de monitoramento foi ontem à tarde, mas as câmeras já estavam em funcionamento há um mês. Um policial fica, a cada turno de seis horas, analisando as imagens das 37 câmeras que funcionam 24 horas em duas centrais em Camobi: uma na Polícia Civil e, outra, na Brigada. Elas ficam em pontos estratégicos e próximas de possíveis alvos da criminalidade como bancos, estabelecimentos comerciais e escolas.
PARCERIA QUE SE TRADUZ EM NÚMEROS
- A Associação Camobi Segura foi criada em dezembro de 2015, por iniciativa de 15 empresários. Hoje, tem cerca de 250 colaboradores da iniciativa privada e de condomínios
- Em três anos e meio, foram aportados mais de R$ 200 mil em melhorias junto às forças de segurança (BM, Polícia Civil, Guarda Municipal, Bombeiros e polícias rodoviárias)
- Há 37 câmeras ativas em vias que são pontos estratégicos (perto de bancos, estabelecimentos comerciais, lotéricas, escolas e nas entradas e saídas do bairro
- Nas próximas semanas, serão mais de 50 câmeras
- As imagens são captadas em duas centrais de monitoramento, na Brigada Militar e na Polícia Civil
- Em 2016, Camobi teve 14 arrombamentos (em casas e empresas). Em 2018, foram 8. Em 2019, apenas 2 até agora